quinta-feira, 12 de julho de 2012

A presença pentecostal na mídia brasileira


 O texto a seguir foi apresentado por Beatriz Carunchio e Fernando Tetsuo Miyahira como exame final das aulas de "História das Religiões" do curso de Mestrado em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC - SP).

Neste breve texto, analisaremos um pouco a questão dos fiéis pentecostais e sua relação com a mídia, principalmente o rádio, meio de comunicação preferido dos fiéis pentecostais de “primeira” e “segunda” onda.     
Maria Lúcia Montes (MONTES, 2006) discute qual o espaço para a religião no Brasil durante o século XX, citando a presença crescente de pentecostais em relação aos católicos, uma vez que o Brasil pode ser encarado como “um país católico”. Segundo a autora, o crescimento dos evangélicos, que lhes deu visibilidade pública, se refletiu também no interior do próprio grupo, que desde a década de 80 procura, agressivamente, marcar sua presença na cena pública, principalmente valendo-se da força política após conseguirem a eleição de uma “bancada evangélica” no congresso nacional durante a mesma época. Mas, apenas isso faria com que o crescimento vertiginoso dos pentecostais crescesse no Brasil do século XX?
O que conseguimos identificar com a leitura do texto de Maria Lúcia Montes é a convergência dos pentecostais com a questão da mídia no Brasil, ou seja, os pentecostais, durante sua história no Brasil, utilizaram-se muito dos meios de comunicação em massa, principalmente o rádio quando falamos de pentecostalismo de “primeira” e “segunda” ondas. Aqui, nos preocuparemos em traçar um histórico do grupo dos pentecostais no Brasil, e a importância da mídia como meio de comunicação em massa enquanto instrumento que viabilizou o crescimento desse grupo religioso.
  
           Chegada e presença dos pentecostais no Brasil

Aqui temos a teoria das três ondas de Paul Freston, explicando o desenvolvimento histórico do pentecostalismo no Brasil. Segundo Freston, em “Evangelical Christianity And Democracy In Latin America” [1] a primeira onda pentecostal começou em meados do ano de 1910, com a chegada de missionários que mais tarde fundariam a Congregação Cristã (CC) e a Assembléia de Deus (AD), esta última em 1911. Tanto a CC como a AD nasceram de grupos influenciados pelo movimento pentecostal dos Estados Unidos, e acabam por desenvolver uma relação de proximidade com as igrejas protestantes norte-americanas e suecas. A CC teve muito sucesso junto aos imigrantes italianos em São Paulo, principalmente por tratar-se de uma prática que foi trazida por um artesão, também italiano e vindo dos Estados Unidos, de nome Luigi Francescon. Já a AD foi fundada em Belém, no estado do Pará por dois missionários norte-americanos, Gunnar Vingren e Daniel Berg, expandindo-se para todo o Norte e Nordeste do país, e depois para todo o território nacional, auxiliada pela grande repercussão entre as pessoas de mais baixa renda e também pelo fenômeno de urbanização no Brasil a partir do século XX. A Assembléia de Deus acaba de tornando a maior igreja pentecostal (e protestante) do Brasil, com mais de 7 milhões de fiéis. Tanto a CC quanto a AD contam com um rigoroso seguimento da fé, moral e costumes. Outra característica destas igrejas pentecostais é o não uso de meios de comunicação ditos modernos, como a televisão, rádio e Internet, pois pregam que os contatos pessoais (tanto como missão quanto nos cultos dos templos) são os únicos e verdadeiros meios de comunicação aprovados por Deus.
A segunda onda pentecostal trata-se do crescimento do movimento pentecostal de primeira onda nos anos 50 e início dos 60, correspondendo também com uma alta atividade missionária norte-americana no Brasil. De todas as igrejas surgidas nesta época, destacam-se três: a Igreja do Evangelho Quadrangular surgida em 1951, a Brasil para Cristo, de 1955 e a Deus é Amor, de 1962. Suas características em comum é o fato de terem sido iniciadas no estado de São Paulo, tal como se caracterizar por movimentos semelhantes á Renovação Carismática Católica e por enfatizarem muito questão da “cura divina”, ou seja, a cura de doenças graves como câncer, AIDS, etc, através da fé e da oração do pastor junto dos fiéis. Além de sua mensagem dirigir-se quase que unicamente à população muito pobre e desamparada, é mais liberal em termos de meios de comunicação do que as igrejas pentecostais de primeira onda, admitindo a comunicação via rádio e folhetins distribuídos nas próprias igrejas.
Finalmente, as igrejas pentecostais de terceira onda são denominadas também, por Freston, de “neopentecostais”, pois não apresentam ligação nenhuma com as matrizes protestantes que direcionaram as ondas anteriores. Características dos anos 70, as suas representantes mais fortes são a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), de 1977, a Igreja Internacional da Graça de Deus de 1980, e a mais recente, a Igreja Mundial do Poder de Deus, de 1998. As duas últimas surgidas depois de um desmembramento da Igreja Universal do Reino de Deus. Tais igrejas se caracterizam pela adaptação do quadro sócio-cultural brasileiro da década de 70, como o inchamento urbano, desenraizamento cultural e estagnação econômica, por isso uma de suas marcas é a chamada Teologia da Prosperidade, que consiste em um movimento surgido nas primeiras décadas do século XX nos EUA, consistindo em uma doutrina que afirma, a partir da interpretação de alguns textos bíblicos como Gênesis 17.7, Marcos 11.23-24 e Lucas 11.9-10, que os que são verdadeiramente fiéis a Deus devem desfrutar de uma excelente situação principalmente na área financeira e na área da saúde.

A mídia no Brasil 

Existem diversas definições para o termo mídia. Dias (2006) afirma que mídia veio do latim media, que quer dizer “meios”. Para o autor, este é um conceito não apenas ligado aos meios de comunicação de massa, mas também intimamente relacionado à publicidade, o que nos leva a questionar se, com isso, o conceito de mídia também não estaria ligado às ideologias que são veiculadas nos meios de comunicação, seja através da publicidade, seja através dos ídolos que promove. Duarte, Leite e Migliora (2006) definem mídia como a institucionalização do processo no qual diferentes agentes reunidos entram em confronto para chegar a uma síntese de significados, normalmente provisória. Já Coimbra (2001) sugere que a mídia é o principal instrumento de produção de significados e de formas de interpretar o mundo. Assim, não mostra apenas o que pensar, sentir e como agir, mas nos mostra sobre o que devemos pensar, sentir e agir. Isso nos leva a pensar que os ídolos e/ou ideologias que a mídia veicula de fato contribuem para o sentido que a pessoa dá a sua própria vida.
Outra informação essencial antes de prosseguir nesta discussão é que, segundo Thompson (2005), ao serem veiculadas pela mídia, as formas simbólicas passam por uma valorização econômica, ou seja, recebem um preço, um valor pelo qual são compradas ou vendidas. Deste modo, continua o autor, tornam-se bens simbólicos. Ou seja, pessoas/ídolos, informações, cultos religiosos e tudo o que a mídia veicula, torna-se uma mercadoria.
No nosso país, notamos que há uma grande ênfase na mídia eletrônica em detrimento das demais, tanto entre a população quanto nos meios acadêmicos, nos quais constatamos haver uma grande oferta de artigos e trabalhos principalmente sobre a televisão. Para Duarte, Leite e Migliora (2006), isso ocorre porque no Brasil, a grande maioria da população não se modernizou com informações de livros, e sim do rádio e da televisão. Com isso, a televisão é muito associada à inteligência (e inteligência é, para muitos, o mesmo que ter muita informação, mesmo que nem sempre essas informações sejam utilizadas na formação de um pensamento crítico).
Coimbra (2001), Mota (2004) e Dias (2006) ressaltam que a televisão se desenvolveu mais no Brasil no período da ditadura militar. Coimbra (2001) afirma que as telecomunicações eram associadas pelos militares ao desenvolvimento, modernização e segurança nacional. Por isso, afirma Mota (2004), foram instaladas redes nacionais, com a construção de estações repetidoras e a instalação de satélites. Para a autora, as redes nacionais integraram o país e facilitaram o controle da comunicação por parte dos militares.
Dias (2006) afirma que, ainda durante a ditadura militar, foi criado o Ministério das Telecomunicações, assim como políticas para o financiamento de televisores. Com isso, os militares pretendiam garantir o acesso da maior parte possível da população ao “milagre brasileiro da economia”, à Copa de 1970 e à transmissão ao vivo do carnaval do Rio. O autor comenta que, em menor proporção, esta foi a mesma estratégia utilizada pelo Ministro da Propaganda e da Informação da Alemanha nazista.

 Considerações Finais

Como mencionamos, ao veicular bens simbólicos, a mídia os transforma em produtos. Paralelo a isso, é popular no Brasil o pensamento de que aquilo que está na mídia é “bom” e “verdadeiro”. Essa idéia faz com que as informações veiculadas tendam a ser aceitas mais facilmente pela população. Assim, os “produtos” oferecidos pela mídia serão valorizados e consumidos, sem que haja maiores críticas por parte da grande maioria das pessoas.
Ao pensar o crescimento do pentecostalismo no Brasil, não podemos deixar de pensar no papel que a mídia teve ao transformá-lo em produto, ou melhor, em um bem de consumo.
Entretanto, devemos sempre ter em mente que, no caso de crenças religiosas, tal como em toda ideologia que se serve à interpretação da realidade, existe uma dimensão simbólica desse bem de consumo. Quem o consome, não “adquire” apenas uma religião e o status que ela traz, mas também “compra” imunidade contra o que Maria Lucia Montes chama no artigo estudado de “situações limite”, mas que os fiéis identificam apenas como “o Mal”: seja o Mal simbólico, representado na figura do demônio, seja o mal da vida cotidiana (doenças físicas e mentais, alcoolismo e dependência química, desemprego, miséria, problemas familiares, etc.). Concluindo, o que se compra não é apenas uma religião e uma forma de interpretar o mundo, mas sim um projeto político: a idéia de que uma vida melhor é possível, com saúde, trabalho e dignidade.  Compram a certeza de que se é merecedor de uma vida digna (aqui e agora), a chance de ser visto como ser humano.

  
BIBLIOGRAFIA
COIMBRA, C. M. B. “Mídia e produção de modos de existência”. Psicologia: teoria e pesquisa. Vol. 17, no 1, p. 01-04. Jan-Abr 2001.

CORTEN, André. “Pentecostalism In Brazil: Emotion Of The Poor And Theological Romanticism”. Palgrave, EUA: 1999.

DIAS, J. V. “Comunicação subliminar na mídia: propaganda televisiva na perspectiva da ética e cidadania”. 2006, 135 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social). Universidade São Marcos, São Paulo.

DUARTE, R.; LEITE,  C. e MIGLIORA, R. “Crianças e televisão: o que elas pensam sobre o que aprendem com a tevê”. Revista Brasileira de Educação. Vol. 11, no 33, p. 497-510, set./dez. 2006.

FRESTON, Paul. “Evangelical Christianity And Democracy In Latin America” EUA: Oxford University Press, 2008.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. “O protestantismo no Brasil e suas Encruzilhadas”, in Revista USP, n. 67, São Paulo: 2005.

MONTES, Maria Lúcia. “As figuras do sagrado: entre público e privado” in NOVAES, Fernando A. História da Vida Privada no Brasil vol. 4. SP: Companhia das Letras: 2006.

MOREIRA, Alberto. “Neopentecostalismo e Mercado de Trabalho”. SP: EDUSF, 1996.

MOTA, R. “Uma pauta pública para uma nova televisão brasileira”. Revista de sociologia e política. No 22, p. 77-86, jun 2004.

NOVAES, Regina Reyes. “Pentecostalismo, política, mídia e favela”, in VALLA, Victor Vincente, Religião e Cultura popular, Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

THOMPSON, J. B. “A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia”. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2005.




[1] A idéia das Três Ondas do Pentecostalismo está contida em FRESTON, Paul. “Evangelical Christianity And Democracy In Latin America”.
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por Beatriz Carunchio e Fernando Tetsuo Miyahira

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Vaticano apoia Federico Franco, novo presidente do Paraguai

De acordo com o site do jornal Tiempo Argentino, a Igreja foi a primeira instituição religiosa a reconhecer o impeachment ocorrido no Paraguai neste último mês. Segundo as notícias, o núncio apostólico no Paraguai, Eliseo Arrioti, reuniu-se com o presidente Federico Franco e anunciou que o Vaticano seria o primeiro estado a reconhecer sua posse.

"El nuncio apostólico del Vaticano en Paraguay, Eliseo Ariotti, se reunió con Federico Franco, con lo cual el Vaticano se convirtió en el primer Estado en reconocer al nuevo presidente paraguayo y en admitir el golpe contra el ex obispo Fernando Lugo.

Ariotti fue uno de los primeros en ser recibido por el nuevo jefe de Estado, quien sólo podía atesorar en su favor un reconocimiento formal de Alemania –que no ve una interrupción constitucional en el jucio político express contra el mandatario constitucional– y de Estados Unidos, que se limitó por ahora a pedir “calma” a la sociedad paraguaya.

Luego de la audiencia con Franco, el representante del Papa Benedicto XVI manifestó su intención de “honrar a las autoridades” y pidió paz para el país, tras lo cual acotó que el Santo Padre envió un mensaje al país.

El prelado evitó dar a conocer detalles de la conversación mantenida con Franco. “Fue una conversación muy personal”, expresó a su salida del Palacio de Gobierno.
Ariotti señaló que “la paz es un don de Dios y sobre todo un don de los hombres”, y se mostró cauto en torno al reconocimiento oficial de los países hacia la nueva administración del Ejecutivo paraguayo.

A su turno, el ministro alemán de Cooperación Económica y Desarrollo, Dirk Niebel, declaró en Asunción que “no existen señales de que el cambio de gobierno haya sido inconstitucional”, tras reunirse en el Palacio de Gobierno con Franco. Pero al mismo tiempo advirtió que “el resultado de las votaciones en el Congreso que llevaron a la destitución del presidente Fernando Lugo son un mensaje político claro”.
Mientras tanto, Darla Jordan, portavoz del Departamento de Estado, instó a que los paraguayos 'actúen de forma pacífica, con calma y responsabilidad, conforme al espíritu de los principios democráticos' ".

As fontes são do blog de notícias Atrio (http://www.atrio.org) e do site do jornal argentino Tiempo Argentino (http://tiempo.infonews.com/).

Por Fernando Tetsuo.