quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Um dia para Todos os Santos

Hoje, precisamente, é dia 31 de outubro. O mundo vêm conhecendo este dia como o famoso Dia das Bruxas, ou Halloween, festejado na América do Norte e amplamente divulgado pelo mundo. Junto disso, aparecem as famosas correntes de internet "contra" este dia. No caso específico do Brasil, muitas pessoas criticam o nosso modo de vida que busca muito da cultura norte-americana e divulgam o Dia do Saci (o "Haloween brasleiro"). Vamos fazer algumas considerações.

O que é o Dia do Saci? Muitos leigos não sabem a origem deste dia. Implantado por meio de uma lei federal pelo deputado Chico Alencar (PSOL - RJ) no ano de 2003, ficaria decidido que no dia 31 de outubro seria comemorado o Dia do Saci, um dia reservado à comemoração do folclore nacional, combatendo diretamente as festividades do Dia das Bruxas em molde norte-americano. Alguns estados nacionais, como São Paulo, oficializaram a data a partir deste ano, o que fez com que a divulgação fosse amplamente feita pelos meios sociais e informativos.

Mas qual o motivo de uma data como esta ser feita em contraposição á uma comemoração não-nativa brasileira? O significado do Halloween é realmente tão forte a ponto disso? Vejamos. O Allhallow-even é nada mais, nada menos, do que a véspera do Dia de Todos os Santos, na cultura celta. Porém, tem-se registros de comemoração cívica apenas a partir de 1745, nas regiões do Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Estes dois últimos, locais que sofreram a colonização inglesa, portanto, tendo contato direto com a cultura celta, típica das ilhas britânicas. Muito mais do que uma "festa à fantasia", é um dia dedicado á presença dos espíritos e mortos na terra, uma vez que não é possível a passagem de tais entidades para o plano mortal nas outras épocas do ano. Portando, a origem pagã tem a ver com a celebração celta chamada Samhain, que tinha como objetivo dar culto aos mortos. A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos, em meados do século V, acabou mesclando a cultura latina com a celta, sendo que esta última acabou quase que desaparecendo ao longo dos anos e séculos.

Com efeito, observamos ainda assim a presença do Dia de Todos os Santos, hoje celebrado no dia 1º de novembro. Se buscarmos a origem católica desta data, conseguimos localizar, há mais de 1300 anos atrás, o papa Bonifácio IV, que estipulou as festividades dedicadas á todos os santos existentes, no dia 13 de maio (Festum omnium sanctorum) e realocada no calendário para o dia 1º de novembro, pelo papa Gregório III. No ano de 840, seu sucessor, Gregório IV, ordenou que este dia fosse celebrado universalmente, como temos conhecimento nos dias de hoje. Com um costume latino-cristão, a celebração do dia 31 de outubro era feita como "vigília" de todos os santos, e o dia 2 de novembro, como o dia dos finados, ou os que já faleceram e se foram deste plano para o Paraíso.

Este humilde historiador, então, vê da seguinte forma o Dia do Saci e manifestações de pessoas em sua apologia: esta data se apresenta mais como uma forma xenófoba e de negação de uma festividade mundialmente conhecida e celebrada, visto que tem origens cristãs e não apenas pagãs e como uma forma mesquinha e fraca de exaltação da cultura brasileira. Isso leva á outra discussão muito ampla, sobre a laicidade do estado brasileiro. Mas, no fim, como não reconhecer o Brasil como um país cristão, com a celebração nacional e paralização de serviços nas datas como Carnaval, Páscoa e Natal? Mesmo configurado como uma celebração unicamente pagã, a Vigília de Todos os Santos também tem sua parte cristã, que reclamem ou não, é presente na cultura brasileira. Qual a falta de legitimidade em comemora-lá? Quem sabe um dia fazemos a coisa certa, e ao invés de transformar uma data tão conhecida mundialmente, não investimos mais em cinema, música e artes nacionais?

por Fernando Tetsuo Miyahira.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre Eric Hobsbawm, aos 95 anos.

Hoje, logo ao acordar, tive a triste notícia da morte do grande Eric Hobsbawm, considerado o maior historiador vivo da atualidade. Realmente, uma notícia muito triste, pois, sendo historiador de formação, estudei muito dele e principalmente de suas obras durante a graduação (e até fora dela). Por isso, não pude deixar de prestar a minha humilde homenagem ao homem que prestou um serviço tão grande para a humanidade: o estudo da História. Notícia de Carta Capital:

"O historiador marxista britânico Eric Hobsbawm, considerado um dos pensadores imprescindíveis do século passado, morreu nesta segunda-feira 1º aos 95 anos. Dono de uma vasta obra, Hobsbawm tem como livro mais famoso a Era dos Extremos(1994), no qual narra sua perspectiva sobre o que chama de “breve século XX”, o período iniciado com o começo da Primeira Guerra Mundial, em 1914, até o colapso da União Soviética, em 1991. O livro foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.
“Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres”, afirmou a filha do historiador, Julia Hobsbawm. “Ele fará falta não apenas para sua esposa, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo”, completou.
Hobsbawm, que influenciou gerações de historiadores e políticos, é reconhecido também por sua história do “longo século XIX”, que para ele se deu entre o início da Revolução Francesa (1789) e o início da Primeira Guerra Mundial (1914). A história do “longo século XIX” foi publicada em três volumes – A Era da Revolução: Europa 1789-1848, A Era do Capital: 1848-1875 e Era do Império – 1848-1914.

Biografia

Nascido em 9 de junho de 1917 em uma família judaica de Alexandria, Egito, Hobsbawm foi criado em Viena no período entre as duas grandes guerras mundiais, antes de seguir para Berlim em 1931. Ele se mudou para Londres dois anos depois, quando os nazistas chegaram ao poder.
Depois de estudar História e obter o Doutorado na Universidade de Cambridge, Hobsbawm se tornou professor em 1947 no Birkbeck College de Londres, centro ao qual seguiu ligado por toda a carreira. Também foi professor convidado na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel."

Descanse em paz, herói.

por Fernando Tetsuo.